domingo, 11 de agosto de 2013

Falsos Reais

Em São Paulo, metrópole brasileira de treze milhões de habitantes, havia um bairro chamado Vila Madalena. Sim, chamava-se mesmo Vila, apesar de ser dentro da cidade, e destacava-se de todos os outros por ser boémio, de noites longas e muita diversão. Não era o único assim. Outros tinham nomes como Vila Mariana, Vila Prudente ou Vila Olímpia. Nas ruas ortogonais e antigas desse bairro, fundado por portugueses no início do século XX, por entre a azáfama dos bares, havia um sitio onde se alojavam viajantes de todo o mundo. Era uma pousada da juventude.

Lá dentro, no bar, todas as noites aconteciam eventos culturais. Desde concertos a sessões de DJs, vernissages ou serões de poesia. Nessas horas de grande bulício, esfolava-se em suor o funcionário Pedro. Jovem paulistano, de aspecto franzino e pele mulata. Todos os dias chegava ao centro da urbe, depois de um trajecto diário de duas horas desde a sua casa na Zona Leste, área infame da cidade, devido ao crime violento, tráfico de droga e pobreza.

Certa noite, actuavam no palco do bar, os Radiola Project, grupo musical de samba rock, que estava então a conquistar a cena musical da cidade. De casa cheia, previa-se que seria uma noite de boa facturação, mas o empregado Pedro, como sempre, trabalhava arduamente pelo seu salário. Numa azáfama completa, circulava constantemente entre a cozinha, o balcão e as mesas. Esta era o seu Triângulo das Bermudas, e para o cruzar tantas vezes tinha que pedir com licença aos clientes, com o prato redondo e metálico de garçon levantado acima das suas cabeças, pelo braço esguio e esticado de Pedro. Chegadas as três da madrugada, Pedro operava na caixa registadora, para atender aos vários clientes que estavam de saída. Dez por cento da conta ia para ele e sabia-lhe sempre bem ver esse dinheiro na sua mão. Esta percentagem para os empregados, logo incluída no preço final da factura era prática comum por todo o Brasil.

Diante dele, ao balcão para pagar a conta, de pé na penumbra do ambiente escuro do bar, vislumbrou dois homens de trinta e poucos anos, cujo boné de pala arqueada, dificultava que se lhes visse o rosto. Deram-lhe uma nota de vinte reais para a mão, equivalente a cerca de sete euros, apenas para pagar um copo de cerveja. Eles recolheram o troco de quantia elevada e foram embora.


Segundos depois, Pedro estranhava o toque da nota, pois parecera-lhe um papel de impressão comum, como o que havia no escritório da pousada, sem uma habitual sensação de aspereza, devida aos pequenos relevos. Retirou a nota da caixa e observou-a à luz de um pequeno candeeiro. A nota era falsa! Pedro saiu disparado pela porta e viu os dois larápios. “Seus Ladrões! Vão pagar por isto!” Gritou-lhes. Já em fuga, a cinquenta metros de distância, um deles vocifera: “Irmão, o desenho que está na nota representa a liberdade. Com ela, fazemos o que quisermos!"

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João