domingo, 16 de fevereiro de 2014

Aquela experiência inesquecível

Agora que já sai das nuvens e quase aterrei na realidade, a ver se consigo partilhar um bocadinho do que foi este verdadeiro sonho. A aproximação de avião a umas ilhas e ilhéus perdidas no meio do oceano pacífico que a pouco e pouco vão ganhando forma e cor é intrigante. Estamos a chegar? É aqui? São as Galápagos?! A emoção é evidente em todos os passageiros colados ao vidro. O sol brilha, o céu está bem azul e os vulcões começam a distinguir-se dos céus, as praias começam a ganhar forma, os tons de azul vão se marcando no mar, o verde em terra e o negro da rochas vulcânicas que tocam as baías, lagoas e areais a perder de vista. Já se vêm barcos, umas poucas casas e quase tocamos o mar. Estamos em terra, estamos nas Galápagos. Toda a gente aplaude.

Abre-se a porta do avião, a luz entra em força, tudo brilha. O ar quente rompe à nossa volta, caminhas levemente, queres ver tudo, não queres perder nada, sentes a vida em bruto... É avassalador... SIM, estás nas Galápagos! Até hoje parece irreal e cada vez que vejo as fotos ainda nem acredito bem que lá estive. Este é  um local não apropriado para apaixonados da natureza com sensibilidade cardíaca. É que cada coisa, momento e situação é melhor que o outro e as emoções vêm acima à séria. Começámos por Santa Cruz, Centro de Darwin. Iguanas nas rochas ao por do sol, tartarugas gigantes no seu habitat natural, túneis de lava, grietas de água salobra e tortuga bay, que praia deliciosa! Pela noite um passeio ao porto onde se vêm raias ratão, pequenas tintureiras e leões marinhos.


Seguimos a Isabela, aii Isabela, Isabela... Passeio em bicicleta, pinguinsssss a busca pelos pinguins, tartarugas no mar e em terra e todas gigantes, nadar com leões marinho numa piscina natural, visitar os flamingos e procurar e procurar piqueiros patas azuis. Tivemos a sorte de ver um grande grupo mas meio longe... Não há espiga eles também estão em San Cristobal. Os últimos dias são em San Cristobal. Grandes expectativas para esta ilha. Aqui vamos fazer o único tour desta viagem: O Tour! Visitamos o parque, praias cheias de lobos marinhos, aves por todos os lados mas nada de piqueiros.

Leão Dormido, é o tour, o passeio imperdível onde tudo é possível. Saímos bem cedo pelas 7, directos à rocha, impressionante de alta, com uma falha no meio. Onde tudo pode aparecer. Entramos na água e estamos rodeados de medusas lindas, cardumes aqui e ali, vamos pela greta na rocha e começam as formas a surgir. Um tubarão aqui, outro ali, mais perto... E de repente por baixo de nós estão mais de 20 tubarões. O coração salta a emoção é gigante. Algo escuro vem lá do fundo, vai ganhando forma... e é uma, não são duas, não são 3, mais de 5 raias, passam por nós. São pintadas parecem estrelas no céu Huuummmm respira fundo que ainda vai melhorar. Só agora começou. Damos a volta por aqui e por ali, tartarugas, lobos marinhos, cardumes e mais cardumes. Até que.... Uma sombra gigante negra, bem negra passa por baixo dos meus pés. Eu não acredito é mesmo? Isto está a Acontecer? É A MANTAAAAAA!!!!! Aaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh Lindo, lindo, lindo... Boca aberta e cá seguia viagem a comer o seu plancton preferido. 
Estou no Céuuu!!!! Uma Manta!!

O dia só agora começou. Ainda vi mais uma manta, um tubarão bem grandote acercou-se a nós. E ao fundo uma baleia respirava à superficie. Daqui seguimos ao norte da ilha Punta Pitt. Ao nosso lado um ilhéu repleto de aves. Fragatas, olha as fragatas. Não posso, é mesmo? Estão em dança e ritual de reprodução. Bolsa vermelha inchada, inchada, e dança e dança. AAhhhhh não acredito. E são 4 ao mesmo tempo. Incrível! Que sorte. Vamos a terra, desembarcamos. Um lugar deserto, virgem, puro.. Uma caminhada pelas rochas lagartixas de lava, tendilhões, um calor duro. No cimo a vista para as praias, o vento forte quase nos faz voar e do outro lado estão os tão esperados piqueiros. Mas estes são ainda mais originais, são de patas rojas. E estão nos ninhos, com ovos.... Cada passo, cada momento é único, inesquecível. Regressamos ao mar, mais um snorkeling, nadar com lobos marinhos, um macho que metia medo do tamanho que tinha nadava gentilmente entre nós. Aves e mais aves à nossa volta a pescar. O Paraíso, isto é o paraíso! Agora sim, sinto-me bem, sinto-me realizada e sinto que cheguei ao fim desta viagem. Passei os últimos dias todos dentro de água a nadar com tartarugas, com raias e lobos marinhos em praias de cortar a respiração... 

Saludos a todos, já vou em caminho ao aeroporto...

M.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Duche


Os caminhos para Pyrefouna mudam com a época do ano: a seca, ou a das chuvas. Do ponto de vista de quem as cruza, a época da poeira ou a da lama, respectivamente.
Desta vez era a da lama. Percorria de mota a pista de terra vermelha molhada, com piscinas de água um pouco por todo o lado: havia chovido há pouco. Os verdes vivos da savana, naquela altura luxuriante, e as cores quentes da estrada brilhavam contra o cinzento escuro do céu.

Em época seca, a distância de Banfora a Pyrefouna, no sul do Burkina Faso, pode ser feita em hora e meia. Nos meses molhados, o tempo duplica-se.
Outras motas e alguns camiões decadentes cruzavam-se de vez em quando, o peso dos camiões escavando fossas na argila encharcada. Não parecia, mas esta era a principal via de comunicação entre Banfora e Gaoua, cidade dos lobis, a última sociedade matriarcal do país.



O céu escureceu, não da noite, mas do dilúvio que ameaçava tombar lá do alto. Os roncos das nuvens vibravam em tudo, acompanhados de descargas de luz que tornavam tudo lilás por um instante. As gotas, grossas, começaram a cair, a frequência aumentando rápido. Doem na testa por causa da velocidade, cegam momentaneamente quando atingem os olhos. Poucos segundos chegaram para parecer ter saído do fundo de um lago, de mota e tudo.
A estrada já não lhe merecia o nome, transformada em rios de correntes súbitas.

Os caminhos para Pyrefouna abandonaram a estrada principal, a chuva que amainava deixava-os ver melhor. Por fim, apareceu a velha ponte de madeira sobre o bas-fond, à entrada da pequena aldeia.
Sekou sabia que eu chegaria naquele dia. Ele e Tiemogo receberam-me à chegada, mais as crianças curiosas que se se iam habituando às minhas visitas.

- Não te lavas? Aquecemos água para o banho.
Palavras reconfortantes para quem gotejava de frio, e lá veio o balde com água aquecida.
Fui até ao duche, pequeno cubículo separado do resto da casa por uma cortina. Buracos na parede e uma pequena abertura para o exterior, para a água sair. Apontei a luz para ver onde pisar e algo se recolheu logo para dentro de um dos buracos. Uma cabeça escamosa ficou de fora. A língua bífida saíndo de sua boca tirou as dúvidas.
- Sekou, está uma cobra no duche!
- Ah sim? Deixa ver...
Espreitou-me por cima do ombro.
- Ah, essas são das que não fazem mal.
E explicou.
- São as cobras sagradas. Mantêm os maus-olhados longe e protegem-nos de feiticeiros. O meu avô falava com elas, entendiam-se. Elas aninhavam-se no seu regaço quando ele dormia a sesta, e obedeciam aos seus comandos. Gostamos de as ter por perto. Ainda ontem estava uma em cima da mesa!
Por entender a minha falta de hábito de partilhar um duche com serpentes, Sekou pegou num bocado de cartão e colocou-o no buraco, tapando o acesso ao réptil. O duche estava protegido: de cobras e de maus-olhados.