domingo, 20 de abril de 2014

Palco Inesperado

No seu périplo pelo mundo, Corto rumou a Melbourne, Austrália, terra que à época recebia milhares de imigrantes todos os dias vindos de uma Europa em conflito. Na primeira noite, Corto buscava diversão, entretenimento e copofonia, nesta cidade que se construía no início do século XX. Deambulava com um grupo de jovens que conhecera no Hotel.

Num "pub" nas imediações, acontecia uma noite de música ao vivo com uma banda cujo apenas o nome assustava Corto: "Kill the Queen". O ambiente era soturno, mal iluminado e respirava-se um espírito resistente e anarquista naquele local. No palco tocava um conjunto de "folk" australiano. A sala era pequena e Corto sentia-se observado. As suas vestes de marinheiro, cuidadas e limpas destoavam das roupas do restante público. Calças rasgadas e cabelos compridos por lavar.

A banda fez uma pausa, e com o seu grupo de amigos à volta, no lado da plateia, Corto começava a cantar uma música de folclore celta da Cornualha, terra do seu pai, também ele marinheiro. Às tantas, reuniam-se já cerca de dez pessoas à sua volta. No final aclamaram-no com palmas, e um local de Melbourne, Ryan, muito à vontade no "pub", onde conhecia toda a gente, disse ao ouvido de Corto: "És o próximo a subir ali." - apontando para o palco - "Prepara-te."

Ryan falou com a banda, e de repente ouviu-se: "Sabemos que está aqui um excelente cantor na audiência. Pedimos que venha até ao palco mostrar-nos os seus dotes vocais!"

Corto bebeu um último gole de whisky e subiu até às luzes da ribalta. Perante a audiência não se intimidou e cantou de improviso, velhas canções dos seus antepassados. No final, brindaram-lhe vezes sem conta, até abandonar o "pub".