quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sou emigrante. Por vários motivos, um dos quais porque sou uma "nómada sedentária". A frase "wherever you go, there you are" sempre me fez sentido, mas agora ainda mais.
Sou portuguesa, está-me nas moléculas o sal do mar, o clima ameno, todos os "inhos", o bacalhau, o cozido, o bom vinho, os pastéis de nata, o verde do Minho, o azul cinza do Tejo, a planície do Alentejo, a ria Formosa, as cores dos Açores, os queixumes, os brandos costumes, os cravos. Eu quis negar, mas sou.
 As razões que me levaram a partir estão na minha genética, literalmente. Fez-me partir a pacatez do povo que nunca pegará em armas para fazer revolução. Os meus genes fazem-me ir a manifestações, escrever reclamações, ter raiva, ter vontade de pôr bombas. Os meus genes ditam-me a completa inapetência para usar a violência mesmo contra os canalhas que continuam impunemente a estragar a vida e o país. Os meus genes ditam-me a aventura, a capacidade de adaptação, a delicadeza, a saudade.
Já não penso que somos desorganizados, sei agora que Portugal é um país limpo, "arranjadinho", lindo. Sei que a nossa maior qualidade é a nossa maior fraqueza: somos tolerantes.