Desliga-se o motor.
Só o silêncio em redor, quebrado aqui e ali pelo canto dos pássaros, o zumbir
dos insectos, o voo rasante das andorinhas, que fizeram ninhos numa velha casa,
ainda branca, mas abandonada deve fazer muitos anos. Mantos imprecisos, de
pequenas flores, matizes de roxo, amarelo e branco estendem-se, a se perderem
de vista, em todas as direcções, no arredondado verde da planície.
Um velho monte
resiste abandonado lá ao fundo. Duas casas, com paredes ainda debruadas num
azul esvaído e restos do telhado, a azinheira enorme ainda dando a sua redonda
sombra aos escombros e rastos que as flores desenharam e descem até quase à
estrada.
Algumas árvores, não
muitas, searas de papoilas rubras dispersas e malmequeres brancos. E uma leve
brisa, que anima de quando em quando, num movimento suave, as ervas baixas e a
água do charco que bordeja a estrada. As rãs, muito próximas, marcam o compasso
da música que soa por entre o silêncio inteiro.
Nada nem ninguém ao
redor. Ao longe, um antigo dólmen, marca milenar de pedra, deixada ali a fazer
História, com a cobertura já descaída sobre um pilar tombado. Mais perto na
beira da estrada, um marco alto, com a imagem de um autocarro inscrita a negro
num branco que persiste ainda, erguido e solitário também, assinala o que foi a
paragem de uma carreira rural que há muito deixou de passar. Apenas um passo e
salta repentino um coelho, que se perde ziguezagueante, em corrida solta na
paisagem, calando as rãs por um momento.
Fica? Parte? Olha ao
redor num círculo completo. Espera ainda um pouco. Liga a ignição, acelera a
mota e arranca fazendo-se à estrada.
António Pereira