Na rua recomendaram-me ir até ao Mercado Janeta. Mas às oito da manhã muitas das barracas dos comerciantes estavam ainda fechadas. Enquanto ia perguntando as direcções para a zona da restauração, sorvia à distância os aromas da cozinha local. Cada vez mais perto, cheirava-me a folhas de mandioca a cozinhar, e deixava-me inebriar pelo amendoim a tostar ou pelo côco fresco ralado. Os almoços ali preparavam-se desde cedo, pelas manhãs fora.
Por vezes sentia que ali o tempo biológico era outro. O sol regia o povo de um modo mais explícito e vincado do que aquilo a que estava habituado. Assim que era avistado com os seus raios, com ele pululava a vida da cidade, e quando se baixava sobre a baía de Catembe, os habitantes de Maputo recolhiam a casa.
Num dos poucos quiosques abertos àquela hora, partilhei o balcão da barraca de zinco com um jovem moçambicano. Bem aparentado, de camisa, com óculos e uma grande pasta de trabalho à inspector forense, pousada sobre o balcão. Eram 8h30 da manhã e ele bebia um garrafa de litro de cerveja preta moçambicana da marca Laurentina. O seu nome era Nélson, com cerca de 30 anos e estudara jornalismo. Casado e pai de dois filhos. O seu empregador era uma empresa de minério sediada no Zimbabué mas com um escritório de representação em Moçambique, onde ele desenvolvia a sua actividade profissional durante o dia.
Por bem, quis juntar-me a ele e replicar a sua ementa, enquanto conversávamos sobre a vida. Uma garrafa de litro de Laurentina às oito e trinta, em conjunto com uma familiar sandes mista. Foi o meu pequeno-almoço deste dia, aliás... o meu mata-bicho, em mais um dia no continente africano.
1 Em alguns lugares de Portugal também se usa esta expressão, derivada de matar a fome ou saciar o jejum da noite.