segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O que se passa em Portugal?

Notícias, pessoas, conversas. Passeios no Jardim da Estrela, ao centro de Lisboa. Um frenesim, melancolia e estática. Ao ver as notícias, as pessoas e o mundano, tudo continua igual. Mas cada dia que passa sei que estou certo. Sei que a governação deste país é cronicamente inviável, difícil e muito desempoderadora. 

Há uns anos atrás, numa altura em que visitava uma quinta nas serras algarvias, um alemão cientista auto-didacta (quer isto dizer que desenvolvia tecnologia de plasmas na sua pequena casa na montanha!), e lá a viver há mais anos do que os que estou vivo, me dizia: “Vocês portugueses têm um problema de confiança. Têm medo de conseguir!” E sim, sem dúvida. Cada vez mais concordo com ele. Temos que nos impor. E sim, cabe-nos mudar a situação atual. É o desafio da nossa geração, de romper com estas teias de mendicidade europeia, a que nos temos agrilhoado ao longo das últimas décadas. 

As pessoas são o essencial em Democracia. Relembrando a etimologia desta palavra, temos “Demos” e “Cratos” em grego. O poder do povo. Mas sabemos que se passa o contrário. Um povo, uma classe política e um país subjugados ao dinheiro, ao lucro, à necessidade de as empresas criarem o capital, do qual, claro está, apenas uma ínfima parte é para pagar os rendimentos dos assalariados. O grande problema disso é que é negligenciada uma importante parte da equação: as pessoas. Os portugueses não são empoderados. Porque poucas vezes se lembram deles. A começar pelos políticos, depois a continuar pelos próprios portugueses, que poucas se vezes se lembram uns dos outros, enquanto grupo, enquanto colectividade, enquanto povo soberano do seu destino, e claro, porque muitas vezes, nós mesmos, não nos lembramos de nós também. O tempo, o dinheiro, a família, os amigos, o trabalho, os superiores, as notícias. A vida pode dar-nos a felicidade, mas a quantos portugueses é que ela bate à porta?

Neste momento, a nós portugueses, não diria “Sim, podemos”, até porque essa linha tem direitos de autor, e para copiar, os espanhóis já usaram isso num partido da sua sociedade civil. Diria antes, “Portugueses, do que é que estamos à espera?!!!” Não temos que seguir fulano ou fulana. Apenas temos que nos seguir a nós mesmos. Dentro de nós temos a resposta a tantas questões. É a nossa inteligência tanto racional como intuitiva que deve reger as nossas acções e não a de mais ninguém. Se isso está a acontecer, é porque o poder não está desagregado, e é porque a nossa opinião está a ser posta de lado, nem sequer indagada.

Nos dias que correm, o grau de instrução dos jovens, mesmo ao nível do ensino obrigatório, permite analisar e decidir o quotidiano com um grau de conhecimento muito acima do que havia há algumas décadas atrás em Portugal, na Europa e no Mundo. No passar dos dias, vão-nos pedindo coisas que não achamos correctas. E claro que há coisas e coisas, e temos que ponderar o seu real valor. Mas não podemos aceitar o que vai para além do razoável. A tua voz conta. E a voz do teu pensamento. A frustração de ir para casa com ideias que não foram expostas ou debatidas, não vale a pena, e na espuma dos dias, degrada este país. Levantemos a nossa voz. Pensamento já o temos. Confia em ti.

Foto de Pete

Foto com licença Creative Commons para Pete - www.flickr.com/photos/comedynose/4643185598