segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Lisboa e arredores em transporte público e a pé na Noite de Natal.

Seis e meia da tarde, véspera de Natal, nos Quatro Caminhos em Queluz. Noite fechada que o Sol põe-se por alturas do solstício às cinco e pouco da tarde. Quase todo o comércio está já encerrado. O Centro Comercial D. Pedro II fechou portas há poucos minutos e abertos ficaram apenas a loja do McDonald e um pequeno café. Algumas pessoas passam apressadas com os sacos das últimas compras de Natal. À hora exacta, porque o trânsito é reduzido, chega o autocarro com destino a Carcavelos. A carreira com o número 106 que liga a Falagueira a Carcavelos, atravessa a zona suburbana de quatro concelhos: Amadora, Sintra, Oeiras e Cascais e vai normalmente apinhada. Mas hoje embarcam apenas dois passageiros no centro de Queluz e a maioria dos lugares lá dentro estão vazios.

O autocarro avança cruzando os Arcos do Aqueduto das Águas Livres e a Ribeira do Jamor rumo à Estação de Caminhos de Ferro de Queluz-Massamá. Esta estação é das mais movimentadas da Linha de Sintra, uma das linhas férreas europeias com maiores índices de ocupação transportando cerca de 67 milhões de passageiros por ano. Aqui sobem apenas dois passageiros. Os que descem deixam o autocarro quase vazio. Rapidamente o motorista arranca rumo a Queluz de Baixo. Avista-se ao longe a IC 19, a grande via de comunicação entre Lisboa e as zonas suburbanas densamente povoadas da Amadora, Queluz, Cacém e Rio de Mouro habitualmente congestionada a esta hora, mas onde hoje o trânsito flui rápido e sem nenhuma demora. A viagem continua por Barcarena, Leceia, Porto Salvo. Depois de Porto Salvo já só seguem três passageiros a bordo e dois descem em Oeiras no Bairro do Moinho das Rolas. Sobem numa paragem mais abaixo uma mulher e duas crianças que fazem um curto trajecto e acabam por descer na Estação de Oeiras. Não chegou a meia hora a viagem entre Queluz e Oeiras. Em dias normais o percurso chega a demorar quase uma hora. O autocarro parte rumo a Carcavelos vazio.

Vazio está também o Largo da Estação de Oeiras. Nem um táxi mas há ainda alguns autocarros estacionados. Na Gare Ferroviária contam-se pelos dedos os passageiros. O comboio que chega de Lisboa e termina aqui a marcha entra à hora exacta, 18.58, transportando oito passageiros e um revisor que vem sentado a mandar sms’s no telemóvel. A composição proveniente de Cascais que arranca pouco depois no sentido de Lisboa também sai quase vazia. Vai parar apenas em Algés e Alcântara antes de chegar ao Cais Sodré. Os horários que estão a ser praticados são os dos dias normais não obstante ser véspera de Natal. Os poucos passageiros são quase todos estrangeiros. Japoneses e orientais, um casal de franceses, alguns ingleses. Depois de Paço de Arcos o comboio segue, num curto trajecto, lado a lado à Estrada Marginal e ao mar. O trânsito também aqui é pouco e flui rápido. Hoje não se avistam as costumeiras e intermináveis filas de luzinhas encarnadas dos carros, em para arranca, no sentido de Cascais. As estações de Algés e Alcântara estão literalmente vazias e o comboio chega a Lisboa com menos de vinte passageiros.



O largo do Cais Sodré está igualmente vazio com todo o comércio encerrado. A Avenida 24 de Julho atravessa-se sem ser preciso esperar pelo verde dos semáforos. Na Rua do Arsenal o movimento é pouco. Uma loja de conveniência indiana e outra de «take-way» de comida oriental ainda permanecem abertas mas tudo o mais encerrou. Algumas pessoas a pé, orientais e africanos, um eléctrico que não pára porque as paragens estão vazias. No Terreiro do Paço um táxi estacionado junto a um dos novos hotéis de charme de Lisboa aguarda um casal de ingleses. À volta tudo permanece em silêncio e encerrado. Na Rua do Ouro apenas uma família espanhola e um grupo de jovens ingleses a caminho da Estação de Metro da Baixa Chiado. Dir-se-ia que Lisboa se recolheu. São oito e meia da noite. O Metro avisa que «existem perturbações em toda a rede pelo que o tempo de espera poderá ser superior ao habitual» e pede desculpa pelo incómodo causado. Mas as desculpas são escutadas por muito poucos. No Cais da Linha Azul, em ambos os sentidos, os passageiros não chegam a uma dezena e a maioria são estrangeiros. Mesmo assim, poucos minutos depois, chega a composição com destino a Amadora-Oeste praticamente vazia. A bordo os passageiros são também quase todos estrangeiros, turistas ou emigrantes transportando consigo sacos de prendas e de comida a caminho da sua ceia de Natal. No termo da viagem na Estação de Amadora Oeste apenas cinco passageiros.

A Avenida Elias Garcia bem como as rotundas que é necessário atravessar descendo no sentido das Portas de Benfica, uma das entradas na capital, encontram-se sem movimento de pessoas e carros. Junto aos laboratórios Vitória dois homens esperam um táxi que tarda em chegar e numa paragem de autocarros mais abaixo um casal de namorados. Mais ninguém num percurso que a pé demora quase um quarto de hora a fazer. Já passam das nove da noite. Nas Portas de Benfica, solitárias no meio da enorme rotunda, só se avistam a esta hora as iluminações de Natal.  

António Pereira
Dezembro de 2015