Já do espaço aéreo se
avista o verde. E isso será o que mais se vê nesta ilha. Verde,
verde, verde. E diga-se que há também mais esperança por lá do
que por cá mas isso fica para outra crónica. A capital Dublin,
batizada com o seu nome original celta como “Dublinia”, tem a
dimensão perfeita. Não demasiado grande, com cerca
de meio milhão de habitantes e com bons acessos, pouco tráfego e o
aeroporto a cerca de 20-30 minutos do centro de autocarro.
Surpreenda-se quem esperar que lá haverá metro. Não, ou melhor,
sim há mas é de superfície. O "tram" ou LUAS como é
chamado. A vida no centro da cidade oscila bastante em torno da Dame
Street, que está para a capital da Irlanda, assim como a Rua Augusta
está para Lisboa. Muito tráfego de carros, pessoas e bicicletas
também, tanto das simples, como das mais recentes versões de "tuk-tuk" a
pedais. Mesmo ao lado da Dame Street, recomenda-se a incursão pelo
bairro do Temple Bar adentro. E o Temple Bar não é na sua origem um
Bar, ao contrário do que alguns tentarão apregoar a troco do lucro
dos seus estabelecimentos. Temple Bar é sim uma antiga via de
comunicação que foi aberta ao longo do Rio Liffey, e em torno da
qual, vários negócios se foram instalando com o passar das décadas
e séculos. A palavra Bar no inglês mais arcaico tem o significado
também de viela, correnteza, caminho. Recomenda-se a passagem por
esta área, que é obrigatória mesmo!
No final da Dame Street,
no lado oposto ao Trinity College, encontra o mais famoso
“fish&chips” da Irlanda. É ultra-pequeno, informal, mas é
tão aclamado e famigerado que à sua entrada há uma tabuleta com
todas as celebridades que já lá foram partilhar o pouco oxigénio
ali existente no meio de tamanho festim da fritura! A comida é boa,
mas para nós portugueses habituados à nossa gastronomia, poderá
saber a pouco, e a óleo também. Mas isso fará parte do "fish"
e das "chips". Para explorar toda esta área que inclui
também o Castelo, recomendo as “Free Street Tours”, que começam
junto ao antigo edifício da câmara municipal e junto ao teatro. No
final haverá uma "chantagenzinha" "suave” para pedir um
donativo, mas será bastante razoável dizer que o pagamento de algo
ente 5 ou 10 euros por pessoa é merecido. Em Dublin respira-se
história. A cidade foi palco de importantes revoluções como por
exemplo a Republicana, liderada por Michael Collins, o IRA e o Sein
Feinn. A visita à prisão Kilmainham Gaol é um tempo bem despendido
para melhor entender as lutas do passado que levaram à libertação
deste povo do jugo britânico.
Fora da capital há varias
atrações. Um carro alugado, boleia ou bicicleta são hipóteses a
considerar mas chegar a alguns dos sítios com uma visita programada
de autocarro, para quem estiver com pouco tempo, é igualmente uma
boa forma de ir. E os autocarros partem da Dame Street, para nossa
surpresa! Muito gravita em torno de lá. A rede viária na ilha é
muito boa, se bem que algumas estradas junto à costa ou em zonas mais
recônditas poderão ser muito estreitas. Uma das principais atrações
da ilha está na ponta norte, a Calçada do Gigante, e a coroa
britânica não guardou isto para eles por acaso, parece-me! Trata-se
de uma formação geológica muito antiga que originou um conjunto de
prismas hexagonais de várias dimensões. Reza contudo a lenda que
havia ali um gigante por perto, e no outro lado do canal que separa a
ilha da Escócia, outro monstro semelhante. Certo dia, o gigante
Irlandês caminhou sobre a calçada para ir falar com o seu homólogo
escocês, e lá chegando desgarrou-o para um desafio em solo seu,
claro. Esperto! Ao retornar a casa, o gigante irlandês confessou à
sua mulher o sucedido, pelo que ela preocupadíssima, decidiu
dissuadí-lo dessa briga. Como tal, combinou que assim que o gigante
da outra margem batesse à porta iria informar que ali não estaria
mais ninguém e disfarçá-lo só para jogar pelo seguro. Assim foi: “Truz-truz”, e ela abriu e falou, ao
que o gigante retorquiu “Gostaria de falar com o seu marido.”
“Mas aqui não está mais ninguém, só o meu bebé”. Contudo o gigante
quis vê-lo. Azar dos diabos para o escocês, o gigante da Irlanda
estava disfarçado de bebé, ocupando um enorme espaço do quarto.
“Mas que grande bebé aí tem minha senhora” afirmou, e logo depois
ele retornou à sua Escócia. Assim reza a lenda... embora não abone
muito a favor dos irlandeses. Nesta ponta da ilha vale também a pena
espreitar Carrick-a-rede, atravessando a ponte de cordas, se bem que
haverá muita gente para fazer esta experiência que é encarada como
um desafio físico ao ar-livre, por todos literalmente, desde os
miúdos até aos mais idosos. As paisagens claro são bonitas,
resplandecentes nos seus tons vivos de verde, e abismais e dramáticas
nas suas acentuadas falésias de pedra escura. Também na Irlanda do
Norte, a paragem em Belfast justifica-se pois a história de
conflitos, tensões e escaramuças é ainda sentida. Desde as
bandeiras, ou a omnipresença ou o excesso delas, da Union Jack,
penduradas nas janelas apenas porque sim, para afirmar a ocupação,
até aos extensos e coloridos murais políticos que podem ser vistos
numa zona protestante, que aludindo à paz universal, aos líderes
mundiais, aos presos políticos da República da Irlanda e de outros,
como por exemplo da ETA, são um conjunto significativo de arte visível para toda a cidade. Mas cuidado, se vão numa visita
programada de autocarro, devem estar atentos às horas pois ainda são
necessários 20 ou 30 minutos para chegar a pé até este lugar desde
o centro, ou da Câmara da Cidade até lá. O táxi é outra hipótese
também claro. O museu em honra do Titanic é também uma
possibilidade mas fica bastante fora de mão do centro, deverá
contudo valer a pena.
À exceção das cidades, dos pontos turísticos e outros legados patrimoniais, esta ilha de cinco milhões de habitantes é na sua essência paisagem. São uma imagem de marca da ilha, tanto na Irlanda, República, assim como na Irlanda do Norte, que por ser bastante plana e por lá abundarem lendas celtas e visigodas, por vezes nos dá a impressão ser na sua essência isso: um enorme planalto verde de trevos de quatro folhas, por entre os quais saltitam seres fantásticos como duendes “lepreachons”, reis, rainhas e espadachins imortais. Nas pontas mais a sul e a oeste, encontram paisagens admiráveis junto a Galway, como nos famigerados Cliffs of Moher, mas que apenas aconselho em dias limpos, em que poderá "inclusive" ver estas falésias do mar em barco. Mas fora destas condições deve pensar-se duas vezes. Em Maio e Junho há mais dias de sol e menos precipitação em toda a ilha pelo que é uma boa opção. Perto de Galway também há um pequeno tesouro guardado sob a forma de vila piscatória. E chama-se Kinvarra. A Ericeira da Irlanda, mas sem uma praia... tão boa pelo menos, claro. Não obstante vale claro a pena, para rever o nosso oceano assim como o braço de água que reentra pela pantanosa doca dos barcos adentro, ladeado por um singelo e apreciável castelo.
Em termos de infra-estruturas e organização dos serviços de apoio ao turista, as duas Irlandas estão muito bem organizadas. Ainda quanto à capital Dublin, as “hop-on hop-off tours” continuam a ser uma valia, apesar do risco associado a ir no piso superior ao ar-livre e de repente começar a chover. E a cultura é omnipresente. As encantadoras e singelas canções celtas assim como a literatura são ubíquas por estas terras. Nota final para o país dos trevos: 5 estrelas. Boa viagem!
João
Os evidentes e repetitivos sinais da ocupação da coroa britânica no norte da ilha. "Não havia necessidade." |
À exceção das cidades, dos pontos turísticos e outros legados patrimoniais, esta ilha de cinco milhões de habitantes é na sua essência paisagem. São uma imagem de marca da ilha, tanto na Irlanda, República, assim como na Irlanda do Norte, que por ser bastante plana e por lá abundarem lendas celtas e visigodas, por vezes nos dá a impressão ser na sua essência isso: um enorme planalto verde de trevos de quatro folhas, por entre os quais saltitam seres fantásticos como duendes “lepreachons”, reis, rainhas e espadachins imortais. Nas pontas mais a sul e a oeste, encontram paisagens admiráveis junto a Galway, como nos famigerados Cliffs of Moher, mas que apenas aconselho em dias limpos, em que poderá "inclusive" ver estas falésias do mar em barco. Mas fora destas condições deve pensar-se duas vezes. Em Maio e Junho há mais dias de sol e menos precipitação em toda a ilha pelo que é uma boa opção. Perto de Galway também há um pequeno tesouro guardado sob a forma de vila piscatória. E chama-se Kinvarra. A Ericeira da Irlanda, mas sem uma praia... tão boa pelo menos, claro. Não obstante vale claro a pena, para rever o nosso oceano assim como o braço de água que reentra pela pantanosa doca dos barcos adentro, ladeado por um singelo e apreciável castelo.
Em termos de infra-estruturas e organização dos serviços de apoio ao turista, as duas Irlandas estão muito bem organizadas. Ainda quanto à capital Dublin, as “hop-on hop-off tours” continuam a ser uma valia, apesar do risco associado a ir no piso superior ao ar-livre e de repente começar a chover. E a cultura é omnipresente. As encantadoras e singelas canções celtas assim como a literatura são ubíquas por estas terras. Nota final para o país dos trevos: 5 estrelas. Boa viagem!
João