terça-feira, 29 de setembro de 2015

Guiné-Bissau, um país de muitas nações

Não é possível falar da Guiné-Bissau, sem falar da sua diversidade étnica. Se alguns mais desatentos, aos cambiantes do verde ou às configurações das linhas de água na paisagem, falam duma geografia monótona o mesmo não podem dizer da diversidade dos povos que ali habitam. Num pequeno território, que embora conte com mais de quarenta ilhas pouco maior é do que o Alentejo português, coexistem mais de vinte grupos étnicos com costumes, dialectos, religiões e organizações sociais distintas.

No fundo trata-se de povos diversos, de diferentes nações que coexistem há seculos no mesmo chão. Chão ou «tchon» é como designam os próprios o território da sua etnia, a sua terra. Este amor pelo seu chão chega a ser de tal ordem que alguns destes povos não se designam pela sua etnia mas sim pelo lugar de onde é originária a sua família como acontece entre os Manjacos. Nada que seja estranho em agricultores que dependem visceralmente da terra.

Centro de Bissau, 2015.

Tanta diversidade tem seguramente razões históricas. A terra fértil e de abundantes águas com uma orla oceânica extensa recebeu ao longo das épocas invasões de sucessivos povos fugidos à seca e à aridez das zonas mais a Norte, do Império do Gana, depois do Império do Mali que trouxe os Mandigas e por último dos Fulas do Reino de Futa Djallon oriundos do interior do actual território da Guiné-Conacri. Os portugueses chegaram no século XV e estabeleceram-se com fins comerciais na orla costeira penetrando mais tarde ao longo dos rios Cacheu e Buba na avidez de fazerem escravos.

Hoje neste pequeno país da África Ocidental as principais etnias são os Fulas que predominam na zona Oeste na região do Gabu e de Bafatá dedicando-se tradicionalmente à criação de gado e ao comércio, os Balantas que encontram-se em maior número na região Sul, nas zonas de Catió e a Norte, na Região de Oio, em volta de Mansôa, os Papeis a etnia maioritária na região de Bissau, os Manjacos que se concentram na região do Cacheu, os Mandingas com os seus subgrupos de Saracolés, Jacancas, Sôssos e Jaloncas que são o grupo maioritário no Norte e os Bijagós que ocupam as ilhas do Arquipélago do mesmo nome e vivem essencialmente da pesca.

A este mosaico de povos, acrescentou ainda o colonialismo português, os Cabo-Verdianos trazidos como subalternos para servirem na administração colonial ao mesmo tempo que punha etnias contra etnias para melhor oprimir a todas. Talvez muita da instabilidade politica da Guiné-Bissau no pós-independência se possa explicar mais por esta herança nefasta do que pela diversidade étnica. Seja como for a verdade é que não se pode ignorar esta diversidade imensa. É que basta estabelecer uma ligação mais próxima com um guineense para logo ele apresentar a sua etnia. Foi assim com o Francisco que é Papel, com a Sónia que é Bijagós, com o Joaquim que é Fula com o Pansur que é Balanta e com o Américo que é Mandinga.

AP.C